quinta-feira, 26 de junho de 2014

O Holandês Voador

          Dezenas de histórias diferentes são contadas em todo o mundo sobre um estranho navio destripulado que veleja contra o vento durante fortes tempestades. Trata-se de um galeão que, desde a primeira avistagem no século XVII, recebeu o nome de Fliegende Hollander (Holandês Voador). Uma das histórias mais conhecidas é a apresentada no filme Piratas do Caribe, mas está longe de retratar a verdade por trás da lenda.

O Holandês Voador
Pintura digital do artista holandes Bramleegwater intitulada The Flying Dutchman

A LENDA DESVENDADA

        A história relatada abaixo é baseada em anotações encontradas no diário de bordo do "Corveta do Capitão Frank", o navio do corsário holandês Roque Brasiliano, e num diário pessoal pertencente a um alquimista de nome Nicholas, amigo de Brasiliano.  

          Em 1655, em algum lugar no Caribe, próximo a Hispaniola, quando seguia em direção norte para a ilha de Tortuga, o Capitão Roque Brasiliano encontrou um navio à deriva. Era um galeão novo, recém construído, abarrotado de comida, ferramentas, utensílios e doze canhões de bronze, mas sem uma viva alma a bordo. Na cabine de comando Brasiliano encontrou um estranho mapa, tão preciso e detalhado que não parecia pertencer àquela época.

           Brasiliano destacou quinze de seus homens para comporem a tripulação provisória do novo navio de sua esquadra para que o conduzissem até a ilha de Tortuga. Ao experiente timoneiro Kees (Cornelius van der Dijken) foi atribuido o comando do galeão.

          Logo no início da viagem Brasiliano notou que o galeão, apesar de ser maior e mais pesado que a corveta, era muito mais rápido. Em seu diário ele escreveu que o novo navio parecia literalmente voar. Apesar dos navios seguirem na mesma direção, pouco menos de quatro horas depois de partirem, o galeão já não era mais visível no horizonte. Foram encontrá-lo dois dias depois ancorado na ilha de Tortuga.

          Kees, o timoneiro, relatou a seu capitão que o navio parecia ter vida própria e o mais estranho de tudo era que conseguia navegar mesmo com o vento afastado a bem menos de cinco quartas da proa, o que equivale a dizer que ele velejava contra o vento,  dentro da área em que normalmente as velas panejavam. 

          O mais fantástico de tudo neste navio, sem dúvida alguma, foi relatado pelo cozinheiro Jan ao alquimista Nicholas. Ele contou que, apesar de metade da comida ter sido transferida para a corveta e que durante dois dias a tripulação comeu e bebeu a vontade, a despensa continuava abarrotada, parecendo uma cornucópia. Nicholas apontou em seu diário que esse foi o motivo pelo qual ele e Brasiliano resolveram batizar o galeão com o nome de Taumaturgo (fazedor de milagres). Eles suspeitavam tratar-se do navio de Nicolau de Mira (São Nicolau), que ao transportar os tributos da Antioquia para Constantinopla, desviou parte de sua carga para matar a fome do povo de Mira, mas ao chegar ao destino constatou-se que milagrosamente nada faltava, nem em peso e nem em quantidade.

           A suspeita dos amigos foi reforçada no dia seguinte à chegada em Tortuga. Brasiliano foi procurado pelo corsário inglês Henry Morgan para que ajudasse na tarefa de conseguir suprimentos para os ingleses que haviam tomado a Jamaica e que, devido a uma estratégia espanhola, agora estavam morrendo de fome. Em troca, os ingleses ofereciam um porto seguro em Port Royal. A comida a bordo do Taumaturgo foi levada para a Jamaica e assim Port Royal tornou-se um lar seguro para Brasiliano e seus companheiros.

          O Taumaturgo jamais foi utilizado nas incursões de pirataria pois seus doze canhões de bronze foram cedidos ao bucaneiro francês Pierre L´Olonnais. Uma nova tripulação foi contratada em Port Royal e, sob o comando de Kees, mas financiados por Brasiliano, eles velejaram pelo Caribe e pelo Atlântico em busca de uma ilha que teoricamente abrigava a fonte da juventude. Uma vez por ano Kees e Brasiliano se encontravam em Port Royal. Esse evento ocorreu durante cinco anos. No sexto ano o Taumaturgo não mais compareceu a seu compromisso anual. 

          Em 1663 Brasiliano registrou no diário de bordo que suspeitava que as histórias contadas nas tabernas, a respeito de um galeão fantasmagórico que velejava contra o vento em dias de tempestades e que os supersticiosos marujos chamavam de Fliegende Hollander (Holandês Voador), pudesse ser o Taumaturgo. Decidiram então procurá-lo. Durante seis meses vasculharam a região das Bahamas até as Bermudas, mas nada encontraram e voltaram a Port Royal.

          Anos mais tarde, Brasiliano e seus homens foram capturados durante um ataque pirata a Campeche, na Nova Espanha, e acabaram deportados para a Europa. Durante a viagem, próximo às Bermudas, o Fliegende Hollander apareceu repentinamente durante uma tempestade. Os corsários holandeses logo reconheceram que tratava-se do Taumaturgo e atiraram-se ao mar. Mesmo com a forte tempestade, nadaram até o galeão e todos subiram a bordo sem sofrer um arranhão sequer.

          Mesmo depois de anos desaparecido, o galeão parecia ser recém construído e novamente estava abarrotado de comida, ferramentas, utensílios, e também o mesmo misterioso mapa, como da primeira vez que o haviam encontrado. No mapa, espetado com um alfinete, Brasiliano  encontrou um bilhete escrito pelo timoneiro Kees, que dizia: "Espete este alfinete na ilha identificada por B´Mn e venha nos encontrar".

          Inúmeras perguntas ficaram sem respostas, mas graças aos documentos encontrados recentemente, agora sabemos um pouco mais sobre o Fliegende Hollander.